sábado, 14 de outubro de 2017

O dia em que o Ceará Sporting Club estragou a tarde de Pelé

A história sendo contada nos jornais da cidade na época (Divulgação/Jornal O Povo)
A carreira dos grandes jogadores sempre é marcada por recordes, títulos, momentos inesquecíveis e toda uma série de glórias que são sempre exaltadas pela imprensa, por seus fãs ou pelos torcedores dos seus respectivos times. Com Pelé não é diferente. Todo bom conhecedor de futebol sabe que o “Rei” jogou a sua primeira Copa do Mundo com apenas 17 anos, que o seu time do Santos na época era um esquadrão temido mundo afora contra, quando ele fez o seu centésimo gol, e por aí vai. Entretanto, este texto não se trata das glórias, mas do lado B da moeda, a versão da história dos que não deixaram Edson Arantes do Nascimento triunfar como quase sempre fazia. É dia de falar do Ceará Sporting Club estragando a festa que estava preparada para o Santos, de contar o que a mídia não dá tanta atenção (o insucesso do herói).

No dia 3 de dezembro de 1972, Pelé já havia feito o seu gol de número 1000 na carreira. Três anos antes, jogaria contra o Ceará no Estádio Presidente Vargas naquela tarde pelo Campeonato Brasileiro. O jogo de número mil havia ocorrido em 1971, mas aquele era um dia especial por ser a sua milésima partida pelo Santos. Estádio lotado, maior número de torcedores da história do recinto em um jogo, público ansioso e jogo teoricamente fácil por nunca um time cearense ter vencido o Santos até aquele dia. Havia todos os elementos para ser uma tarde inesquecível com Pelé sendo o centro das atenções, mas esqueceram de combinar com os valentes jogadores alvinegros.
Pelé cercado pelas crianças na entrada do campo do PV (Divulgação/Jornal O Povo)
Pelé cercado pelas crianças com camisas do Ceará na entrada do campo do PV (Divulgação/Jornal O Povo)
O jogo começa e, com 11 minutos, Pelé abre o placar. A partir deste momento faz todos terem a impressão de que seria somente um jogo protocolar para a coroação deste momento da carreira vitoriosa dele. Ledo engano. Mesmo com os seus torcedores vibrando com o gol do adversário, o Ceará buscou o restante do jogo pelo empate e, consequentemente, pela virada. Somente no segundo tempo, com os tentos de Samuel, aos 17 minutos, e Da Costa, aos 30, que o resultado foi alterado a favor do time cearense, fazendo do alvinegro destaque daquele dia histórico. Os mais antigos dizem que foi uma partida inesquecível pela qualidade do futebol apresentado pelas duas equipes e pela forma como o pequeno Ceará dobrou o grande Santos, com muita valentia e marcação pesada sobre os jogadores santistas.

A torcida do Ceará ensandecida invadiu o campo ao final do jogo, em gesto que parecia em comemoração por um grande título, para comemorar com os seus atletas a vitória inesperada e marcante sobre o Santos. Tentaram comprar a camisa 10 que Pelé usou na partida ali mesmo dentro de campo, algo que ele ficou extremamente irritado. Indignado pela proposta, ele cobrou das autoridades um estádio maior e mais seguro, que evitasse invasões e perturbações como aquela – 11 meses depois inauguraram o Castelão, em Fortaleza. Naquela tarde, o alvinegro ganhava pela primeira vez do Peixe, frustrava a festa de Pelé e fazia a história ser escrita (para não ser exaltada pela mídia). É interessante notar que são raras as menções a esse jogo nos noticiários de fora das terras cearenses, até mesmo no Google, mas ela não merece ser esquecida.
Pelé no centro do campo do PV (Foto: Divulgação/José Maria Rosa/Jornal O Povo)
Pelé no centro do campo do PV (Foto: Divulgação/José Maria Rosa/Jornal O Povo)

Ficha técnica do jogo:

CEARÁ 2×1 SANTOS
Campeonato Brasileiro de 1972

Local: Estádio Presidente Vargas (PV)
Data: 3/12/1972
Renda: Cr$ 207.571
Público: 35.752 pagantes (2.321 não-pagantes)
Árbitro: Carlos Costa
Auxiliares: Harri da Costa Ramos e Assis Furtado
Gols: Pelé (11min 1ºT), Samuel (17min 2ºT) e Da Costa (30min 2ºT)

Ceará – Hélio Show; Paulo Tavares, Odélio, Mauro Calixto e Dimas Filgueiras; Edmar e Joãozinho; Nado, Jorge Costa, Samuel e Da Costa.
Técnico: Ivonísio Mosca

Santos – Joel Mendes; Turcão, Paulo, Altivo e Murias (Vicente); Léo e Pitico; Roberto Carlos, Afonsinho (Edu), Pelé e Ferreira.
Técnico: Pepe



Texto: Victor Portto

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