quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O Campeão Mundial Tiquinho.


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Onofre Aluísio Batista nasceu no dia 7 de janeiro de 1959 na cidade do Rio de Janeiro. O pequeno menino que corria pelas ruas próximas a sua casa tinha cerca de 10 anos quando ingressou na categoria dente-de-leite do Botafogo. Com um pouco mais de um metro e meio e apenas trinta e seis quilos, era considerado por muitos, um “tiquinho de gente”, daí surgiu seu apelido Tiquinho. Atacante com pouca intimidade com a bola, que jogava pelo lado esquerdo, Tiquinho chamou atenção por ser muito rápido, o que fazia dele quase imbatível na corrida. Não era incomum que aparecesse sozinho tendo apenas o goleiro a sua frente.
Com apenas 14 anos, em 11 de junho de 1973, marcou os dois gols da vitória do Botafogo, por 2 a 0 frente ao Dínamo de Kiev, na final do torneio mundial juvenil, realizada na cidade francesa de Croix. Ainda que não fosse uma competição oficial, por conta da participação de grandes equipes, dentre as quais Ajax, Benfica e Milan, sua conquista deu ares de ser um título mundial juvenil. Tiquinho passou a ser considerado como uma grande joia da equipe da estrela solitária. 
Em 1975, aos 16 anos, se profissionalizou. Ainda que não fosse titular do Botafogo, costumava atuar em partidas amistosas. No dia 9 de março, marcou o primeiro gol do estádio José Américo de Almeida Filho, o Almeidão, na capital paraibana, João Pessoa, na vitória por 2 a 0 frente ao Botafogo local. Em outubro foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira olímpica, comandada pelo genial Zizinho, que viria a conquistar a medalha de ouro nos jogos pan-americanos da cidade do México. Seu começo foi devastador, marcando gol logo na estreia, frente à seleção da Costa Rica, na vitória brasileira por 3 a 1, no dia 14. 
De volta ao Botafogo, estreou no campeonato brasileiro, com a equipe já eliminada, marcando um gol na vitória por 2 a 1 frente ao Guarani de Campinas, em 29 de novembro, e mais dois, no triunfo alvinegro por 2 a 0 contra o Nacional de Manaus no dia 4 de dezembro. O ano de 1976 começou de forma ainda mais promissora para o atacante que logo em janeiro voltou a ser convocado para a seleção olímpica que disputaria o Torneio Pré-Olímpico realizado em Recife. Tiquinho atuou em duas partidas, frente o Uruguai e Argentina, e foi, novamente, campeão. Ainda muito jovem chegou a ser testado na equipe titular, no entanto, a camisa alvinegra parecia pesar muito e por conta disso os dirigentes botafoguenses resolveram emprestá-lo ao Treze da Paraíba que iria disputar seu primeiro campeonato brasileiro naquele ano. Acreditava-se que aqueles poucos meses seriam o suficiente para que o futebol promissor do atacante voltasse a brilhar e ele pudesse assumir a posição de titular no ataque carioca. Ledo engano. Tiquinho chegou a ter dificuldades até mesmo para conseguir a titularidade na fraca equipe paraibana que, sob o comando do técnico Laerte Dória, fez uma campanha pífia, abaixo das expectativas, com sete derrotas consecutivas e a penúltima colocação na classificação geral de uma competição que contou com 54 equipes. De volta ao Botafogo, dono do seu passe, Tiquinho trazia consigo algo ainda pior que seu mau desempenho em campo. Havia muitas histórias de suas aventuras fora dele, que costumeiramente envolvia farras com mulheres e muita bebida.
Os dirigentes botafoguenses acreditavam que o jovem atacante de 18 anos ainda poderia “voltar aos trilhos” e fazer um grande ano em 1977. Infelizmente não foi o que aconteceu, aliás, muito pelo contrário. Enquanto o Botafogo formou uma grande equipe que permaneceu invicta por 52 partidas, o futebol de Tiquinho parecia minguar. Para piorar, os problemas extracampo se intensificaram e tornaram quase que rotineiros. Quando não faltava aos treinos, chegava à sede do Botafogo em condições precárias, muito por conta da bebida. Após um ano de clara e surpreendente decadência, período em que vestiu a camisa alvinegra carioca em apenas 4 oportunidades, a diretoria do clube perdeu a paciência com o atleta, que acabou sendo transferido para o Ceará em 1978.
Era muito difícil imaginar como um atleta tão jovem e vencedor já parecia estar em evidente decadência. Ainda que não tenha mostrado um futebol primoroso no Vozão, Tiquinho foi o protagonista de um fato que fez dele um dos maiores nomes da história do clube. No dia 20 de dezembro de 1978, no estádio do Castelão, foi dele o gol da vitória por 1 a 0 do Ceará frente ao arquirrival, Fortaleza, aos 45 minutos do segundo tempo e que garantiu, à equipe alvinegra, o tetracampeonato estadual. Até os dias atuais, a narração do gol, em que pese o bom posicionamento de Tiquinho na área, que se limitou a ser um chute fraco em direção do gol já vazio, costuma ser repetida a exaustão nos momentos que antecedem as partidas do Ceará. Inegável afirmar que Tiquinho seja um dos grandes ídolos da torcida alvinegra. Inconsequente em suas atitudes e sendo “goleado” pela bebida, este foi o seu grande e derradeiro momento na equipe cearense onde ficou até 1980. 
A partir daí começaria uma vida cigana, praticamente nômade, ficando pouco tempo nas equipes por onde passou, dentre elas, Remo, Fortaleza, novamente Ceará, até chegar ao futebol amazonense, onde voltou a ser campeão, em 1982, ao defender, novamente, as cores de uma equipe alvinegra, no caso o Rio Negro, em uma conquista importante que deu fim a uma sequência de seis títulos consecutivos do rival, o Nacional, onde também atuaria em 1985, após passar pouco tempo no Marília. 
Ao que parecia sua carreira encerrara no interior paulista. Em 1988, com 27 anos de idade, Tiquinho foi flagrado bêbado nas arquibancadas do estádio Carlos de Alencar Pinto, em Fortaleza, durante amistoso do Ceará. Exalando cheiro forte, repetia em alto e bom som para centenas de torcedores que tinha sido campeão mundial com 14 anos, algo que ninguém acreditava. No ano seguinte, voltou a ter uma chance no futebol defendendo o River do Piauí. Sua estreia aconteceu no clássico contra o Flamengo, o chamado Rivengo, no dia 14 de maio de 1989. Aos 30 minutos do primeiro tempo, mostrou que sua contratação tinha valido a pena, ao marcar o gol de empate de sua equipe.
No intervalo da partida, no entanto, quando o técnico do River, o ex-meio-campista Caçapava o procurou para dar orientações, o encontrou já com roupa de passeio e o questionou: “Quem mandou você trocar de roupa?”. Tiquinho, sem titubear, respondeu: “Entrei e já marquei meu gol, o que o senhor quer mais?” e deixou o vestiário. O River acabou vencendo a partida por 2 a 1 e, posteriormente, conquistaria o titulo piauiense daquele ano, o terceiro título estadual de Tiquinho, que atuou apenas esta partida. Tiquinho é um triste exemplo de um talento que foi jogado fora por clara falta de acompanhamento de alguém que pudesse orientá-lo. Infelizmente acabou vencido por uma companheira que esteve ao seu lado durante toda a sua vida, a bebida.

Por: José Renato

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